20 de janeiro de 2024

Pardo II

Caros examinadores,

com muito respeito venho através desta petição solicitar que seja reconsiderada a minha exclusão da lista destinadas a pessoas negras e afrodescendentes deste concurso.

Infelizmente fui recebido atônito via diário oficial da decisão colegiada de que sou um homem caucasiano. Ao primeiro relance desacreditei no que lia e, em  um segundo momento, me senti completamente obtuso. 

O meu reconhecimento social é primeiramente definido pela minha aparência diante da sociedade, e esta, no contexto social brasileiro, reforça diariamente que branco não sou.

Junto a este texto encaminho os documentos que pude reunir em 48 horas, em um sábado e domingo, para aqui provar aos senhores que sou uma pessoa negra não retinta, e declaradamente parda desde que me reconheço por indivíduo. Estes documentos possuem fotografias originais que mostram minha face ao longo dos anos de vida e que me identificam como indivíduo pardo.

Conforme o IBGE sou considerado pardo, pessoa miscigenada que expressa fisicamente traços brancos e negros em sua aparência, tendo em vista minha ascendência. Não existe uma conformidade física em minha face que imediatamente me defina como pessoa negra retinta vírgula tão pouco características físicas que me definam como uma pessoa branca caucasiana.

Do mérito da avaliação realizada para a heteroidentificação, mostro-me hoje como um homem de 30 anos que, por ventura de recorte temporal específico, fui colocado em um balaio de privilégio que nunca me coube, homem branco.

Na documentação anexa mostro aos senhores que sempre fui um jovem negro de pele clara, meus traços físicos são grandes lábios, cor de pele mais escura, nariz batatinha e cabelos crespos. Ao longo da vida, minhas características fisicas podem ter se alterado um pouco, mas mantenho minha dignidade e a certeza das minhas origens.

Venho da periferia de uma cidade do interior, e quando jovem, na escola, ouvi impropérios como "o faveladinho" ou ainda o "traficante". Estudei em uma escola particular onde a maioria das pessoas eram brancas. Lembro-me de alisar os cabelos para que eles fossem mais normativos a uma estética branca dominante, lembro-me de me achar feio porque não tinha reconhecido em mim a minha beleza, lembro-me também de chorar por ser quem eu sou.

Por ser uma pessoa parda, ou melhor, negra de pele clara, certamente sou empurrado para um limbo de percepção de identidade. As impressões sociais são transitórias e variam para nós pardos, a depender de onde estamos. Acredito que essas impressões também são afetadas por recortes de classe social evidentes em nossa sociedade. Tenho a certeza de que a educação a mim possibilitada tenha me embranquecido socialmente no que tange a percepção social, haja vista as roupas que uso e a linguagem corporal com que me expresso. Me ensejou a dúvida: se a mim tivesse sido legado o mesmo destino dos outros meninos negros não retintos deste pais, sem oportunidades ou com outra presença estética, eu teria sido lido, por esta comissão, como um homem branco caucasiano?

Ainda, tenho a convicção de que a leitura tida por esta comissão não tenha sido absoluta e unânime. Desta maneira rogo para que seja considera a identidade que reivindico a mim, a de um homem pardo, ou seja vírgula homem negro não retinto.

Ademais, gostaria de valorar o trabalho da comissão que presta serviço essencial a comunidade, provendo da melhor forma possível sua sabedoria, tempo e seriedade no intuito de termos uma sociedade mais justa neste país.

Por fim, reitero minha autodeclaração como pessoa parda, como pessoa negra não retinta, como uma pessoa definitivamente não branca, e como pessoa que possui privilégios e "desprivilégios" sociais por ter a aparência que tenho, e que a despeito da decisão aqui tomada, continuará sendo e se identificando como um homem cis pardo lgbtqia+ feliz por ser quem é.

Atenciosamente,

Pardo I

 


descobri através dessa banca que minha vida é uma fraude, que eu não pertenço a grande maioria dos brasileiros deste pais que através da miscigenação, do estupro, da opressão e embranquecimento de uma população, sofre diariamente para ter acesso aos direitos renegados historicamente a uma população interia.

Uma fraude de uma vida inteira. Já não foi o suficiente a minha trajetória para estar onde estou e ser quem eu sou, e entender que meu corpo é o que me define e que devo me alegrar de tê-lo, tenho que receber através de um edital frio a decisão da minha identidade através de uma comissão que não me reconhece. De fato não sou retinto, de fato não passarei pelos desprivilégios sociais que acomentem a população negra desse pais, mas tão pouco sou branco e irei usufruir das benesses dadas por uma sociedade pós escravocrata possui.

Em minha defesa, mesmo que ache que não é cabida porque sou pardo, indago primeiramente se esta comissão julgou por uninimidade minha aparência como caucasiana. Se a esta comissão não suscitou para sí sequer a dúvida ou a indagação sobre minhas origens e meu cotidiano e minha aparência. Se sim, foi unânime, que não seja considerada o meu recurso e que se a sociedade me vê como pessoa branca eu humildemente entenderei que eu durante todos esses anos de vida fui apenas uma pessoa confusa e ignorante sobre a questão étinica.

Mas agora se houve tal dúvida, que prevaleça a minha declaração de que sou pardo. Ora porque eu acredite que não é esta comissão que define  quem eu sou, ora porque não será a constatação desta comissão que me fará deixar de ser lido por meus colegas, familiares e estranhos como não branco, e ora por que eu tenho convcção de que branco não sou e nunca serei.

Por fim, me entristesse profundamente, para não dizer que me tornei perturbado, de que para além das tantas violências silenciosas que uma pessoa parda sofre fui acometido por mais uma, e de forma institucional. 

Não valeu minha autodeclaração de nada, não vale as minhas experiências de vida o que vale é apenas a constatação de um comitê por maioria a me dizer que sou um homem branco. Anos de terapia não serão suficientes para arrumar a fraude que me tornei perante a sociedade e perante a mim mesmo, serão decadas.

Peço humildemente, que reconsiderem esse descalabro que é considerar uma pessoa não branca como branca, peço que olhem e reflitam sobre o contexto deste pais e de quem nele é considerado branco. Se me pus a esta comissão para ser avaliado, foi a contragosto, por que no mesmo sentido que uma população inteira foi discrimidada pela aparencia hoje sou eu excluído da história desse pais ao me colocarem no balaio de uma população privilegiada de que nunca fiz parte.

19 de setembro de 2022

Essay on love III


Just got myself thinking about this feeling again,

Mostly it is a nostalgic joy coming around eventually and in certain extend attaches to me as allegories. 


I remember myself lost in one of these allegories which was an ex-boyfriend’s eyelashes and I can certainly say that I could be there forever just watching them while his eyes were blinking. I feel I was able to see his soul through it, I could read the shared happiness while it existed.


Another strong allegory was a laugh, it belongs to another ex-boyfriend. It is definitely the way I was able to see his heart. It was a delight glancing him with kindness and suddenly see his mouth opening to show what I felt was his best. Unfortunately he stopped smiling and once was a door became a wall.


Now I am stuck in someone’s eyes and hair, they shine as bright as the other allegories. The first are deep and thoughtful but at the same time emanate a strong feeling of peace and sharing, I confess I fear to be drowning in it but I can’t help looking at them. Well, I dare say I almost envy the second one because it is a feature I will never have as beautifully, it is the proof of his confidence and for sure those are the reason I strongly admire and appreciate him.


I cannot tell what these allegories means for sure but I provoke saying they just come up when I am in a corresponded bound and this is because they area things that can only be seen when shown designedly to me. Maybe I have discovered how to identify when love appears. I won’t forget any of them.


It’d be funny to see what part of me is brought shining throughout my chest to others. It could be a smile, a look or even my speech maybe I’ll never know.